
Para obter uma maioria governativa na autarquia, o novo presidente da Câmara de Sintra, Marco Almeida, da coligação PSD/IL/PAN, convidou candidatos do Chega para cargos de vereadores. Ainda assim, a candidata da IL Eunice Baeta aceitou permanecer no executivo municipal. Por esse motivo, a líder liberal retirou-lhe a confiança política.
A presidente da Iniciativa Liberal (IL), Mariana Leitão, afirma que o PSD “traiu-se a si próprio” ao fazer um acordo de governação com o Chega, na Câmara de Sintra. Em entrevista à SIC Notícias, a líder liberal defendeu que, em qualquer câmara que o Chega tenha poder, “é André Ventura que está lá sentado”.
O Chega vai integrar o executivo da Câmara de Sintra. Para obter uma maioria governativa na autarquia, o novo presidente, Marco Almeida, da coligação PSD/IL/PAN, convidou Anabela Macedo, do Chega, para assumir a pasta da Segurança e Ricardo Aragão Pinto, também do Chega, para o pelouro das Atividades Económicas, Fundos Comunitários e Mercados Municipais.
A decisão não foi bem acolhida pela liderança da IL, parceira de coligação do PSD em Sintra. Depois de a candidata liberal no concelho, Eunice Baeta, ter aceitado integrar o executivo onde estarão os vereadores do Chega, Mariana Leitão decidiu retirar-lhe a confiança política, passando esta a vereadora independente.
Em entrevista à SIC Notícias, esta noite, a presidente da IL afirmou que o partido é “irredutível” nos seus princípios e que não aceitará “acordos e coligações com o Chega”.
“Sempre estabelecemos que, com o Chega, não. Não iríamos partilhar um executivo, nem viabilizar, nem branquear, um partido que faz a apologia ao Salazar, à ditadura”, afirmou. “Não trocamos os nossos princípios por cargos.”
Mariana Leitão sublinha que uma das razões pelas quais o partido concorreu coligado com o PSD em Sintra foi garantir que era “força de oposição” ao Chega e evitar que este pudesse ter um “ainda maior resultado”.
“Quem mudou de posição foi o PSD, que depois de ter defendido amplamente o “não é não”, à primeira oportunidade que tem, à primeira conveniência que lhe é apresentada, volta atrás”, apontou.
“PSD abriu a porta a um partido autoritário, populista, extremista”
A líder liberal admite que não falou com Marco Almeida sobre o assunto, mas recusa que tenha havido qualquer tipo de ingenuidade da sua parte ou que o partido não entenda bem como funciona o poder local.
“Por todo o país, os cartazes do chega tinham André Ventura. Não tenho dúvida nenhuma de que em qualquer executivo em que o Chega tenha poder não fica restringido àqueles vereadores. É André Ventura que está lá sentado e tudo aquilo que defende e representa. A apologia à ditadura, o autoritarismo, o populismo, o ódio. É isso que lá vai estar. E com isso não compactuamos, independentemente de ser no poder local”, declarou.
Mariana Leitão confessa desconhecer os motivos pelos quais não houve acordo com o PS para formar maioria em Sintra, mas considera que “não é por não se ter um executivo com maioria que não se consegue governar, se as pessoas estiverem de boa-fé”. Aponta, como exemplo, o caso de Lisboa, em que Carlos Moedas ficou minoritário na autarquia e continuou sem incluir o Chega no executivo.
“O PSD abriu a porta a um partido autoritário, populista, extremista. Qualquer solução teria sido preferível a esta”, defendeu a líder liberal.
Mariana Leitão afirma que, com este acordo, mais do que à IL, o “PSD traiu-se a si próprio”.
Questionada ainda se Eunice Baeta terá sido uma “má escolha” de candidata feita pela IL em Sintra, a líder liberal recusou-se a fazer essa avaliação. “Eunice Baeta é uma pessoa competente, foi uma pessoa que escolhi para a minha comissão executiva”, referiu. “Tomou a sua decisão e eu agi”, concluiu Mariana Leitão, garantindo que, se pudesse voltar atrás, não faria nada de diferente em todo o processo.